Abril Havia uma lua de prata e sangue em cada mão. Era Abril. Havia um vento que empurrava o nosso olhar e um momento de água clara a escorrer pelo rosto das mães cansadas. Era Abril que descia aos tropeções pelas ladeiras da cidade. Abril tingindo de perfume os hospitais e colando um verso branco em cada farda. Era Abril o mês imprescindível que trazia um sonho de bagos de romã e o ar a saber a framboesas. Abril um mês de flores concretas colocadas na espoleta do desejo flores pesadas de seiva e cânticos azuis um mês de flores um mês. Havia barcos a voltar de parte nenhuma em Abril e homens que escavavam a terra em busca da vertical. Ardiam as palavras Nesse mês e foram vistos dicionários a voar e mulheres que se despiam abraçando a pele das oliveiras. Era Abril que veio e que partiu. Abril a deixar sementes prateadas germinando longamente no olhar dos meninos por haver. José Fanha, Lisboa, Portugal (Do livro "Tempo azul") |