02/08/2020

QUINTA DO CARMO - CONVENTO Nª. SENHORA DAS RELÍQUIAS

Continuando a visita pela Vidigueira, vamos agora para a Quinta do Carmo. 


Ora bem chegámos à Quinta do Carmo, onde se situa o Convento de Nª. Sª. das Relíquias.
Datado dos finais do século XV, por volta do ano de 1496. Diz a lenda que este novo culto, terá tido origem na aparição da Virgem a uma humilde pastora, no lugar da Várzea, (lugar onde se situa o convento) em 1480- 1481 .



Aqui a fachada principal, e a porta que da para a Igreja do Convento. Mas não vamos entrar por aqui. 
Hoje ele é propriedade particular, e não se encontra aberto ao público pelo que para se visitar, tem que se entrar em contato com os donos e marcar a visita, para que eles nos abram a porta. A visita é acompanhada pelo dono, ou pela filha, e só vemos parte do monumento. A parte que não está habitada
Vamos contornar o monumento e ver a enorme área da quinta.



Aqui um cruzeiro pétreo do século XVII
A lateral do Convento. A toda a volta, uma profusão de verde...


Jardim
Nas traseiras do Convento,  temos esta imagem que retrata a pastora e a Nossa Senhora que terá aparecido em cima dum zambujeiro.
 Na várzea do Zambujal, local onde segundo a lenda, a Virgem Maria fez a sua aparição a uma pastorinha, foi erigida uma ermida que mais tarde foi entregue aos monges carmelitas de Moura, para que aqui estabelecessem um convento. A sua fundação encontra-se documentada por alvará expedido em Montemor pelo Rei D. Manuel a 7 de Janeiro de 1496. Aqui foi erigida uma pequena capela, que com a construção do convento ficou aqui apenas o arco do altar como recordação.
AQUI encontram a lenda de Nossa Senhora das Relíquias, que eu não vou contar aqui para não me tornar muito longa.
Damos uma volta pela quinta


até à Capela de Santa Luzia, já bem distante do Convento. É uma capela pequenina redonda, que tem no interior a imagem de Santa Luzia e uma moldura com a foto de um frade.
Pena que a foto do exterior da capela não ficou boa.  Parece que esta pequena capela terá sido construída para os frades que andavam na lavoura, poderem ter os seus momentos de oração sem terem que ir ao convento, o que dava uma grande perda de tempo entre o ir e vir.
Entre árvores, vinhas e olivais também há flores.
E já estamos a entrar no convento. Na altura da sua fundação, ele foi entregue a um grupo de frades do Convento Carmo de Moura.  Aqui nesta pequena capela se casaram os atuais donos do monumento,


os paramentos litúrgicos em exposição..
O teto
no átrio da Capela.






E vamos passar à parte que nos é mostrada do Convento pois o resto é habitação dos donos da casa.


E vamos passar ao interior do monumento
Aqui  neste convento estiveram os restos mortais de Vasco da Gama, antes de ser trasladado para o Mosteiro dos Jerónimos.
À entrada dos Claustros uma lápide escrita no português arcaico e ao lado a tradução.

E já estamos nos claustros. Durante quase um século a seguir à sua construção, o convento cresceu muito em importância. Era muito procurado pelos devotos de Nossa Senhora das Relíquias, pela devoção à Santa, mas também para utilizarem as águas aqui existentes que tinham fama de curar as doenças dos rins.  Aqui se instalou uma grande biblioteca, e uma importante escola de gramática.
Os claustros formam um quadrado interior, ounde se situa o jardim e a sua cisterna.
Num dos claustros esta bela fonte em mármore.
A  importância histórica deste monumento prende-se a D. Vasco da Gama, o navegador português que descobriu o caminho marítimo para a Índia. Vasco da Gama não era da Vidigueira, e as terras da Vidigueira, e Vila de Frades, eram pertença da Ilustre Casa de Bragança. Mas Vasco da Gama que nascera em Sines, era um apaixonado por esta zona, e o seu sonho maior era tornar-se um dia, o senhor destas terras. Vasco da Gama tornou-se presença habitual deste convento com cujos frades mantinha uma relação de grande amizade. 
Com a descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, D. Manuel I atribuiu grande riqueza a Vasco da Gama, que pôde assim realizar um sonho antigo. Negociou um acordo entre Vasco da Gama e D. Jaime I, Duque de Bragança, em que este último vendia as vilas da Vidigueira e Vila de Frades a Vasco da Gama, seus herdeiros e sucessores, bem como todos os rendimentos e privilégios relacionadosMas isto não era suficiente para o ambicioso Vasco da Gama, e ele andava triste e sem vontade para nada. Então em 1519,  D. Manuel I atribui -lhe o titulo de Conde da Vidigueira, e o direito a usar o seu nome como D. Vasco da Gama. O Dom, só era usado aos nobres, pelo que Vasco da Gama foi o único não nobre a usá-lo 
Aqui o jardim, e a cisterna.


Mais um Claustro, vendo-se ao fundo uma talha.
Alguns objetos antigos, entre os quais um bonito rádio.
Alguns livros
E pequenos objetos expostos em vitrina.




                                         Altares


E agora sim chegámos à igreja, onde repousaram os restos mortais de Dom Vasco da Gama.Como já se disse Vasco da Gama era um apaixonado pela Vidigueira e grande amigo dos frades aqui residentes. Então o seu desejo era de ser sepultado aqui neste convento. Para adquirir o direito de aí ser sepultado, bem como os seus descendentes, pagou ao convento 13.000 reais. E deixou -o escrito em documento. Vasco da Gama foi depois feito Vice-Rei da Índia, para onde voltou a partir, e onde viria a falecer vitima da malária,  na cidade de Cochim na véspera de Natal de 1524, e aí foi sepultado. A família porém moveu todas as influências junto do rei, a fim de que se cumprisse a sua vontade de ser sepultado na Vidigueira, tendo os seus restos mortais sido transladados para este convento em 1539. Quinze anos após a sua morte. Os restos mortais de Vasco da Gama terão então sido aqui sepultados como era seu desejo e aqui terão permanecido até à sua transladação para o Mosteiro dos Jerónimos, nos anos 80 do século XIX. Acontece que o povo da Vidigueira, se insurgiu e não deixou sair de lá os restos mortais do conde almirante. E parece que os primeiros restos mortais que vieram para Lisboa, em 1880 foram rejeitados pela Real Academia de Ciências de Lisboa que não acreditou serem os do almirante.
Então depois de muitas negociações, conseguiu-se fazer a transladação em troca da construção de uma escola na sede do concelho, escola essa hoje transformada em museu municipal. 
 O episódio desse  braço de ferro entre o governo e o povo da Vidigueira foi tão intenso, ainda hoje é conhecida por estas bandas a expressão “larga o osso” devido à vontade das duas partes ficarem com as ossadas do Conde.


A igreja conventual foi reconstruída em 1593, por iniciativa de D. Miguel da Gama, sobrinho neto do navegador, que nunca chegou a ser conde da Vidigueira pois era apenas o segundo filho do 2º Conde da Vidigueira, e como sabem os privilégios na nobreza, eram apenas para o primogénito. 
Este edifício serviu de panteão para os descendentes do almirante,e seus descendentes, condes da Vidigueira e marqueses de Nisa.

Nesta capela dedicada ao Santíssimo Sacramento, anteriormente consagrada a Nossa Senhora da Conceição, pode ser observado um fresco dos inícios do século XX que representa a Última Ceia. Nesse lugar, temos ainda o monumento fúnebre dedicado ao padre André Coutinho, uma personalidade do tempo de D. Miguel da Gama que terá professado no Oriente antes de se estabelecer no convento, onde fundaria na nova igreja a sua capela tumular.


parte do teto conserva ainda grande beleza. Embora seja certo que noutros tempos a igreja estaria repleta de belos painéis dos séculos XVI e XVII, a profanação que o Convento sofreu após a extinção das ordens religiosas em Portugal em 1834, D. Pedro IV ordenou que as suas riquezas, fossem levadas para Évora a fim de as preservar de possíveis roubos. Ficaram apenas os frescos e os túmulos.  Em 1841, o Mosteiro que estava abandonado, foi assaltado, arrancaram e partiram as lápides das sepulturas existentes na igreja, porque o povo acreditava que os grandes senhores eram sepultados com jóias e outros objetos. Essa é uma das razões porque na Vidigueira ninguém garante que sejam mesmo os restos mortais do navegador, que vieram para os Jerónimos. já que aqui estavam também sepultados filhos e netos de D. Vasco da Gama. O único túmulo que ficou intacto foi o do Padre André Coutinho, talvez porque pensassem que o padre era um pobre homem que nada teria de valor.
Nesse mesmo ano de 1841 o Convento foi comprado por José Gil de Macedo e Menezes um homem muito rico de Portel, que o transformou na sua residência.



Uma gravura mostra-nos como era o  Altar -Mor que infelizmente foi destruído


Diz-se que estes dois pedaços de tronco, são o que resta do zambujeiro onde Nª Srª das Relíquias terá aparecido à pequena pastora. 
Em 1918 a imagem da Nª Srª das Relíquias foi levada para a Igreja de S. Francisco onde é venerada como padroeira e de onde se realiza todos os anos uma procissão em sua honra.














Nesta igreja havia grandes riquezas, entre elas um Relicário e um Porta Paz em ouro, prata e pedras preciosas que o padre André Coutinho trouxera da Índia. Estas preciosidades encontram-se em exposição no Museu de Arte Antiga em Lisboa.


A traça original do convento era bem diferente. Foi o Conde da Ribeira Brava, um dos presidentes da Câmara da Vidigueira quem o transformou e lhe deu o aspeto que tem hoje.
Esta quinta é atual pertença do Doutor Mário Silva e sua família.


Espero que tenham ficado a conhecer um pouco melhor a VIDIGUEIRA

22 comentários:

  1. Muito lindas todas e bem explicadas! beijos, tudo de bom,chica

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  2. Um dia destes terei de ir à Vidigueira, quiçá passar uns dias !
    Obrigado Elvira

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  3. Está tudo muito bem conservado. Gostei de ver.

    Ainda em pausa, fazendo um périplo pelos blogues amigos, para agradecer os cumprimentos que me deixaram na minha publicação transata.

    Que o Agosto venha mais livre e auspicioso...
    Abraço
    ~~~

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  4. Gostei de passear e conhecer estes locais encantadores através do seu olhar, Elvira
    Beijinhos

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  5. Mas que grande passeio acabo de dar contigo! Uma boa guia, bem documentada, com uma excelente reprodução fotográfica. Fiquei a conhecer algo mais e passei a ser menos ignorante.
    Abraços de vida, querida amiga

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  6. um belo passeio por vários séculos de historia Gracinha
    já passei por aí, mas desconhecia esse monumento
    realmente o fim das ordens religiosas provocou muita destruição, as pessoas perderam o respeito pelo património e muito se perdeu, ou foi vendido
    obrigada pela partilha desses olhares:)

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  7. Gostei muito das fotos e da história e informação que partilhou. Obrigada pelo link com a Lenda.
    Gosto muito de sítios assim cheios de história e este não conhecia.
    Um grande beijinho

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  8. Buenos días Elvira, que tengas un buen fin de semana y feliz mes de agosto que comenzamos hoy.

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  9. Olá, Elvira!

    Um passeio agrádavel, conhecer um pouco da história enriquece a postagem. Muito bom passar por aqqui.

    Um abraço,
    Sônia

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  10. Informações que gostei de ler. Uma reportagem muito completa.
    Gostei muito.
    Abraço Elvira

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  11. Fotos muito bonitas. Como é lindo Portugal.
    .
    Domingo feliz
    Abraço

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  12. Boa tarde Elvira,
    Fotos maravilhosas e com muito interesse .
    Um local a visitar.
    Beijinhos e boa semana.
    Ailime

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  13. Boa noite querida Elvira!
    Que bela viagem!
    Fotos deliciosas!
    beijinhos de luz!🌼😀❤️
    Megy Maia🌈

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  14. É verdade, és uma guia virtual maravilhosa, tudo bem explicadinho, conheci o convento Nossa Senhora das Relíquias! E que lindo é esse teu Portugal, Elvira!!
    Um beijo, amiga, uma boa semana!
    Até mais!

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  15. Boa tarde de paz, querida amiga Elvira!
    Gosto de Quintas, áreas preservadas.
    Imagens muito bonitas que proporcionam passeio aos olhos ainda que distantes.
    Você é muito contemplativa.
    Tenha dias abençoados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  16. Estou passando para agradecer a gentil presença na minha “CASA”.
    Com os preparativos para ir de férias amanhã não tenho possibilidade de ler e comentar, o que farei, com o maior prazer, quando regressar, no finalzinho do mês.
    Até lá, tudo de bom, e Obrigada!

    Abraço
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  17. Boas boas e excelente introdução à Vidigueira, que não conheço.

    Quanto a aparições e como o devido respeito a quem nelas acredita, sinceramente poderiam ser mais originais e , já agora, seria bom que Maria aparecesse a Trump , Bolsonaro e afins e lhe metesse juízo na cabeça.


    Beijinho, bom resto de semana

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  18. Mais uma vez, foi um gosto imenso, descobrir um belo local, percorrendo mais uma publicação de excepção, por aqui, Elvira! Belíssimo o suporte informativo e fotográfico!
    Excelente post, Elvira! Beijinhos
    Ana

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  19. Olá Elvira Grande Historiadora. Tudo Bem para Si e os Seus.
    Alberto Santos

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  20. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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ESTE ESPAÇO É MUITO ESPECIAL. POR FAVOR TORNE-O MAIS ESPECIAL DEIXANDO A SUA OPINIÃO. BOA OU MÁ NÃO IMPORTA. SÓ COM ELA EU POSSO MELHORAR.

ESTE BLOGUE NÃO OFERECE NEM ACEITA SELOS. AGRADEÇO O VOSSO CARINHO E A VOSSA COMPREENSÃO.

MUITO OBRIGADA E VOLTEM SEMPRE.

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