04/11/2018
QUINTA DO CARMO - CONVENTO Nª. SENHORA DAS RELÍQUIAS PARTE II
E já estamos nos claustros. Durante quase um século a seguir à sua construção, o convento cresceu muito em importância. Era muito procurado pelos devotos de Nossa Senhora das Relíquias, pela devoção à Santa, mas também para utilizarem as águas aqui existentes que tinham fama de curar as doenças dos rins. Aqui se instalou uma grande biblioteca, e uma importante escola de gramática.
Os claustros formam um quadrado interior, ounde se situa o jardim e a sua cisterna.
Num dos claustros esta bela fonte em mármore.
A importância histórica deste monumento prende-se a D. Vasco da Gama, o navegador português que descobriu o caminho marítimo para a Índia. Vasco da Gama não era da Vidigueira, e as terras da Vidigueira, e Vila de Frades, eram pertença da Ilustre Casa de Bragança. Mas Vasco da Gama que nascera em Sines, era um apaixonado por esta zona, e o seu sonho maior era tornar-se um dia, o senhor destas terras. Vasco da Gama tornou-se presença habitual deste convento com cujos frades mantinha uma relação de grande amizade.
Com a descoberta do Caminho Marítimo para a Índia, D. Manuel I atribuiu grande riqueza a Vasco da Gama, que pôde assim realizar um sonho antigo. Negociou um acordo entre Vasco da Gama e D. Jaime I, Duque de Bragança, em que este último vendia as vilas da Vidigueira e Vila de Frades a Vasco da Gama, seus herdeiros e sucessores, bem como todos os rendimentos e privilégios relacionados. Mas isto não era suficiente para o ambicioso Vasco da Gama, e ele andava triste e sem vontade para nada. Então em 1519, D. Manuel I atribui -lhe o titulo de Conde da Vidigueira, e o direito a usar o seu nome como D. Vasco da Gama. O Dom, só era usado aos nobres, pelo que Vasco da Gama foi o único não nobre a usá-lo
Aqui o jardim, e a cisterna.
Mais um Claustro, vendo-se ao fundo uma talha.
Alguns objetos antigos, entre os quais um bonito rádio.
Alguns livros
E pequenos objetos expostos em vitrina.
Altares
E agora sim chegámos à igreja, onde repousaram os restos mortais de Dom Vasco da Gama.Como já se disse Vasco da Gama era um apaixonado pela Vidigueira e grande amigo dos frades aqui residentes. Então o seu desejo era de ser sepultado aqui neste convento. Para adquirir o direito de aí ser sepultado, bem como os seus descendentes, pagou ao convento 13.000 reais. E deixou -o escrito em documento. Vasco da Gama foi depois feito Vice-Rei da Índia, para onde voltou a partir, e onde viria a falecer vitima da malária, na cidade de Cochim na véspera de Natal de 1524, e aí foi sepultado. A família porém moveu todas as influências junto do rei, a fim de que se cumprisse a sua vontade de ser sepultado na Vidigueira, tendo os seus restos mortais sido transladados para este convento em 1539. Quinze anos após a sua morte. Os restos mortais de Vasco da Gama terão então sido aqui sepultados como era seu desejo e aqui terão permanecido até à sua transladação para o Mosteiro dos Jerónimos, nos anos 80 do século XIX. Acontece que o povo da Vidigueira, se insurgiu e não deixou sair de lá os restos mortais do conde almirante. E parece que os primeiros restos mortais que vieram para Lisboa, em 1880 foram rejeitados pela Real Academia de Ciências de Lisboa que não acreditou serem os do almirante.
Então depois de muitas negociações, conseguiu-se fazer a transladação em troca da construção de uma escola na sede do concelho, escola essa hoje transformada em museu municipal.
O episódio desse braço de ferro entre o governo e o povo da Vidigueira foi tão intenso, ainda hoje é conhecida por estas bandas a expressão “larga o osso” devido à vontade das duas partes ficarem com as ossadas do Conde.
A igreja conventual foi reconstruída em 1593, por iniciativa de D. Miguel da Gama, sobrinho neto do navegador, que nunca chegou a ser conde da Vidigueira pois era apenas o segundo filho do 2º Conde da Vidigueira, e como sabem os privilégios na nobreza, eram apenas para o primogénito.
Este edifício serviu de panteão para os descendentes do almirante,e seus descendentes, condes da Vidigueira e marqueses de Nisa.
Nesta capela dedicada ao Santíssimo Sacramento, anteriormente consagrada a Nossa Senhora da Conceição, pode ser observado um fresco dos inícios do século XX que representa a Última Ceia. Nesse lugar, temos ainda o monumento fúnebre dedicado ao padre André Coutinho, uma personalidade do tempo de D. Miguel da Gama que terá professado no Oriente antes de se estabelecer no convento, onde fundaria na nova igreja a sua capela tumular.
parte do teto conserva ainda grande beleza. Embora seja certo que noutros tempos a igreja estaria repleta de belos painéis dos séculos XVI e XVII, a profanação que o Convento sofreu após a extinção das ordens religiosas em Portugal em 1834, D. Pedro IV ordenou que as suas riquezas, fossem levadas para Évora a fim de as preservar de possíveis roubos. Ficaram apenas os frescos e os túmulos. Em 1841, o Mosteiro que estava abandonado, foi assaltado, arrancaram e partiram as lápides das sepulturas existentes na igreja, porque o povo acreditava que os grandes senhores eram sepultados com jóias e outros objetos. Essa é uma das razões porque na Vidigueira ninguém garante que sejam mesmo os restos mortais do navegador, que vieram para os Jerónimos. já que aqui estavam também sepultados filhos e netos de D. Vasco da Gama. O único túmulo que ficou intacto foi o do Padre André Coutinho, talvez porque pensassem que o padre era um pobre homem que nada teria de valor.
Nesse mesmo ano de 1841 o Convento foi comprado por José Gil de Macedo e Menezes um homem muito rico de Portel, que o transformou na sua residência.
Uma gravura mostra-nos como era o Altar -Mor que infelizmente foi destruído
Diz-se que estes dois pedaços de tronco, são o que resta do zambujeiro onde Nª Srª das Relíquias terá aparecido à pequena pastora.
Em 1918 a imagem da Nª Srª das Relíquias foi levada para a Igreja de S. Francisco onde é venerada como padroeira e de onde se realiza todos os anos uma procissão em sua honra.
Nesta igreja havia grandes riquezas, entre elas um Relicário e um Porta Paz em ouro, prata e pedras preciosas que o padre André Coutinho trouxera da Índia. Estas preciosidades encontram-se em exposição no Museu de Arte Antiga em Lisboa.
A traça original do convento era bem diferente. Foi o Conde da Ribeira Brava, um dos presidentes da Câmara da Vidigueira quem o transformou e lhe deu o aspeto que tem hoje.
Esta quinta é atual pertença do Doutor Mário Silva e sua família.
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Boa noite Elvira,
ResponderEliminarGostei imenso de conhecer esses detalhes do convento assim como as suas explicações históricas.
Beijinhos,
Ailime
Boa Tardinha, querida amiga Elvira!
ResponderEliminarAmo lugares assim... um dia quiçá possa avistar tal beleza com você?
Tenha dias felizes e abençoados!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Como gostaria de conhecer !!! Bj
ResponderEliminarUma das tolices da época do império foi essa transladação dos restos mortais de Vasco da Gama para os Jerónimos... Vasco da Gama estava muito longe de ser um santo, por isso, o rei, que pretendia relações de soberania amigável que favorecessem o comércio, castigou-o e só tarde o deixou navegar para o oriente.
ResponderEliminarGostei muito da reportagem fotográfica e de saber da fortuna do navegador na Vidigueira.
ótima semana.
Beijos
~~
Que fotos fantásticas!
ResponderEliminarBeijinhos,
Espero por ti em:
strawberrycandymoreira.blogspot.pt
http://www.facebook.com/omeurefugioculinario
https://www.instagram.com/marysolianimoreira/
Na realidade muito bonito e muito bem documentado as tuas duas publicações !!!
ResponderEliminarInteressantes explicações sobre este espaço que tanta história encerra.
ResponderEliminarAbraço Elvira
Gostei dessa sua postagem, muito. Eu adoro mosteiros, conventos. O respeito e o silêncio. Fui criada na religião católica, e essas coisas, como também a arte sacra ficam impregnadas na gente, fez parte da educação.
ResponderEliminarbeijo.
Ola Elvira, gostei muito deste passeio pela Vidigueira graças a essas lindas fotos, um dia destes passo por lá!!!
ResponderEliminara parte histórica também a achei muito interessante, não conhecia essas ligações a Vasco da Gama, mas o mundo é pequeno e Sines não é assim tão longe, mas quem foi á India ! não há distâncias que metam medo !
abraço
Oi Elvira
ResponderEliminarAqui a gente aprendeu a História só um pedaço.
Gostei de sabê-la por inteiro
Beijos
Lua Singular
Maravilhoso, o que se aprende, por aqui!...
ResponderEliminarFiquei fascinada com a história deste convento, de que já ouvi tantas vezes falar, mas que ainda não se proporcionou visitar...
Mais um excelente trabalho, Elvira, do ponto de vista fotográfico e informativo!
Beijinhos!
Ana
Já deu para aprender mais um pouco da nossa história.
ResponderEliminarBoa reportagem.